Nós nos apaixonamos por nossos “não consigo”!
Eu não sei para você, mas para mim, agarrar-me aos meus “não consigo” me isenta de responsabilidades e me deixa na ilusoriamente confortável situação de coitadinho precisando de colo.
E por que fazemos isso?
Primeiro, porque é mais fácil choramingar pelos cantos, feito uma criancinha mimada, que não ganhou o brinquedo que ela tanto esperneou para ter, fazendo até reloginho no meio da loja, dando show. Quando criança, a primeira forma com que consegui as coisas que queria foi assim mesmo, na base do choro e do grito. Minha sorte é que, no que estava ao alcance deles, meus pais fizeram um bom trabalho em me educar e foram me ensinando que existiam maneiras mais dignas de conseguir o que eu queria. À medida que fui crescendo, vi que algumas coisas eu poderia fazer por mim mesmo e, nas coisas que não conseguia, era mais produtivo pedir com educação, na hora certa, para a pessoa certa. Mas o bebezinho mimado de vez em quando aflora, quando o conforto do berço emocional é ameaçado. Chego até a espernear e considerar outras pessoas culpadas do meu desconforto e responsáveis por trocar as minhas fraldas do comodismo.
Segundo, porque no jardim de infância, quando ameaçado de ter meu lanche ou um brinquedo filado por algum coleguinha, era mais fácil chamar pela “tia” reclamando, dizendo “tia, o Pedrinho pegou meu carrinho”. Para quê aprender a negociar o meu espaço se podia jogar a responsabilidade por minha vida em alguém que eu considerava superior? Esta criancinha preguiçosa também aflora de vez em quando, quando tenho a tendência de jogar as decisões de minha vida no colo de alguém. Esqueço que o único responsável por minhas escolhas, agora que sou adulto, sou eu!
Terceiro, porque quando era criança, sempre buscava fazer primeiro o que era mais cômodo, mais interessante e divertido, deixando sempre para a última hora as tarefas mais difíceis e trabalhosas, simplesmente porque eram “chatas”. Tenho até hoje o trauma do “caderno passado a limpo”, principalmente o de matemática. Desenho animado, seriados, brincar de soldado, tudo era prioritário em relação a tarefas como passar todas aquelas contas para um outro caderno, com letra decente, limpeza e capricho. Resultado? Estresse de última hora, não apenas para mim, como para minha mãe, que aguentava meu mau humor. Era difícil enxergar a ideia de que assistir ao Papa-Léguas não me traria crescimento nenhum na vida, mas que aprender a entregar um trabalho bem feito faria a diferença para melhor no meu futuro. Até hoje esse pirralho procrastinador vence algumas das batalhas que travo com ele, impedindo que eu cresça até atingir meu potencial.
Mas um dia a vida jogou em minha cara a realidade de que não era mais um garotinho. Demorou, mas aprendi que me comportar como uma criancinha birrenta não iria resolver nada. Muito pelo contrário, só iria atrair mais chorões como eu, que berravam junto comigo ou pior… passavam a mão em minha cabeça dizendo “coitadinho”!
Neste processo de virar gente grande, um dos livros que mais me fizeram acordar para a vida foi Shut Up, Stop Whining, and Get a Life, de Larry Winget (infelizmente não editado no Brasil). Se eu fosse traduzir em português claro, bem cotidiano, seria mais ou menos assim:
- Cale a boca!
- Engole o choro!
- Vê se cresce!
Já ouviu isso em algum lugar? Não lembro de ter escutado isto de minha mãe, que é uma mulher suave demais para termos fortes assim. Mas ouvi isto da Mamãe Vida e, depois de ouvir vezes sem conta, passou a fazer muita diferença em minha vida.
Paulo de Tarso, em sua tão conhecida passagem sobre o Amor, disse “Quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino, discorria como menino, mas, logo que cheguei a ser homem, acabei com as coisas de menino” (1Co 13:11). Passei a crescer a cada dia mais quando tomei isto como ensinamento prático em cada hábito que procurei criar e treinar.
Todos os dias a criancinha birrenta ainda choraminga dentro de mim. Acho que ela nunca vai parar de chorar, reclamar e procrastinar. A diferença está em se dou ouvidos a ela ou ao adulto que decidi ser.
À medida que cresço, descobri que posso ser criança sim, mas a criança que me dá criatividade, disposição e alegria de viver. Já a criancinha birrenta, chorona e remelenta nunca me ajudou, não me ajuda e jamais me ajudará a ser alguém na vida.
Se você compartilha esta mesma luta comigo, permita-me dar uma dica para sua criança interior, quando ela põe as garrinhas de fora. Olhe para o espelho, com amor e com toda a autoridade de adulto que você lutou tanto para ter e fale com firmeza: Cale a boca! Engole o Choro! Vê se cresce!
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Deus te abençoe!
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