Seja alegre, lento e carinhoso. Este é um trio de ingredientes da receita para uma vida com baixas calorias emocionais, ricos nutrientes de criatividade e uma boa dose de fibras de resiliência.
Vivemos em um mundo sério demais, rápido demais, cruel demais. Presos em uma rotina de velocidade, produção, lucro a todo custo, confundimos cara fechada com concentração, agenda lotada com eficiência e correria com produtividade.
Há um ditado chinês que diz que o último a notar que está na água é o peixe. Trazendo para o nosso dia a dia, o último a notar que precisa relaxar é o estressado.
Imagine a cena: o expediente já fechou faz duas horas, mas você ainda está no escritório, mergulhado em um projeto infindável, com uma salada de pepinos e abacaxis em cima de sua mesa, esperando ser engolidos sem água, com a bateria de suas energias a ponto de se esgotar, estourando por qualquer contrariedade. Aí, em determinado momento toca aquela música que você adora, que te dá energia e boas lembranças. Você olha para um lado, olha para o outro e nota que está sozinho. Não pensa duas vezes para pegar uma régua e começar a dedilhar o solo de guitarra. Dali há pouco você se entusiasma e levanta, empurrando a cadeira para longe, se entusiasmando pelo solo e pela batida, aumenta o volume e começa a balançar o corpo todo, se achando o Steve Vai; aumenta mais ainda o volume e começa a cantar junto com o vocalista, com o seu inglês macarrônico e pensa “que importa, ninguém está olhando mesmo!!!”; quando a música vai chegando no final apoteótico e você já está com o pé em cima da cadeira para os últimos acordes, pronto para dar encorpar a voz, nota que há umas batidas na mesa ao lado… um de seus grandes amigos chegou pra te chamar para um chopinho e se entusiasmou com sua performance, assumindo as baterias imaginárias. Dando risada, vocês aproveitam para tocar junto a próxima música, fazendo um dueto do pato rouco com o taquara rachada, mas o que importa? E daí se alguém estiver olhando? Não estamos fazendo nada de errado, só desestressando!
Pense na história de sua vida e lembre de momentos como estes, onde tudo o que você e seus amigos fizeram foi fazer algo bem besta, só pelo prazer, por voltar a ser crianças (ou talvez até serem crianças mesmo). Fazer algo simplesmente porque deu vontade.
- Aquela vez que vocês, voltando da escola ou até do trabalho, pegos de surpresa por uma chuva, optaram por brincar nas poças ou derrubando a água acumulada nas folhas das árvores uns nos outros, só para zoar.
- Aquela vez que seu filho estava andando de skate e você resolveu esquecer que o que mata velho é tombo, arriscando ficar algum tempo ali, fazendo papel de ridículo, mas sabiamente deixando o seu filho ser seu professor, em vez de o contrário.
- Aquela outra vez que você e sua esposa resolveram ir a um parque de diversões, brincando apenas nos brinquedos mais infantis, simplesmente para voltar a ser crianças. Compraram sorvete de casquinha e brincaram de passa-lo no nariz um do outro, mataram saudades de algodão doce ou daqueles pirulitões coloridos e talvez até convenceram o cara da piscina de bolinhas a deixá-los brincar junto com a garotada.
Incrível como momentos aparentemente sem sentido, muitas vezes são justamente aqueles que dão sentido à vida.
- Quando foi a última vez que você tomou banho de mangueira em um quintal bem enlameado?
- Quando foi a última vez que você passeou descalço sobre um gramado molhado?
- Quando foi a última vez que ficou um tempão em um balanço que não fosse o contábil, à sobra uma árvore, apostando com seu sobrinho quem conseguia balançar mais alto?
Deu para notar que quando eu digo “fazer besteira”, obviamente não estou dizendo para fazer algo que prejudique alguém, alguma tarefa mal feita e muito menos algo moralmente errado.
Estou dizendo que, para não surtarmos neste mundo louco, às vezes precisamos conseguir nosso equilíbrio cortejando a insanidade, como diria Renato Russo. Precisamos de vez em quando lembrar que aquela criança que fomos ainda mora dentro de nós e precisa se divertir de maneira saudável. Precisamos lembrar que crianças não buscam sentido em suas brincadeiras, elas apenas brincam.
Então, antes de surtar, que tal fazer papel de bobo, só pra relaxar?
- Fuja com aquela pessoa que você ama e que estará com você na alegria e na tristeza. Desligue o celular. Vá namorar, não em lugares chiques e sofisticados, mas em lugares simples e despretensiosos, simplesmente curtindo o fato de estarem um com o outro.
- Brinque com as crianças da sua vida. Elas vão te lembrar de quem você já foi e vão te ensinar a ser quem você pode ser no futuro.
- Ria de si mesmo e sozinho. Faça coisas bestas, simplesmente por serem bestas mesmo. Não faz sentido buscar sentido em tudo, porque muitas vezes as melhores viagens são aquelas sem rumo nem roteiro, pois é nelas que você encontra lugares novos, amigos novos e sentidos novos para a loucura do dia a dia.
Experimente fazer algumas “boas besteiras” como estas e depois me diga o quanto isto recarregou suas baterias emocionais, melhorou seus relacionamentos e despertou novas ideias.
Qual a boa besteira que está a fim de fazer hoje?
Compartilhe esta ideia.
Deus te abençoe!
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